terça-feira, 14 de setembro de 2010

DESVENDANDO O CODIFICADOR



 
QUADRO DOS PRINCIPAIS FATOS REFERENTES A
ALLAN KARDEC E ÀS ORIGENS DO ESPIRITISMO

1. Introdução
Neste trabalho procuraremos reunir alguns dados importantes da história do Espiritismo, especialmente os referentes a Allan Kardec e ao Espiritismo nascente. Nossa fonte básica será a obra Allan Kardec, em três volumes, da autoria de Zêus Wantuil e Francisco Thiesen, dada a público pela Federação Espírita Brasileira em 1979/80. Qualquer estudioso do Espiritismo reconhecerá prontamente que ela representa o mais completo e rigoroso estudo já publicado sobre a vida e a obra de Kardec. Os volumes 2 e 3, da autoria de Thiesen, contém ainda análises e comentários de grande justeza e profundidade sobre muitos tópicos referentes à doutrina e ao movimento espíritas.
Os três volumes dessa obra apresentam uma massa de informações bastante densa. Dispõem de índices antroponímicos, mas não trazem índices analíticos. Nos dois últimos volumes, os capítulos são de amplas proporções, contendo muitas seções. Thiesen optou, certamente com razões ponderáveis, por não fazer uma apresentação cronológica dos fatos. Tudo isso dificulta sobremodo a localização dos assuntos. Por tais motivos, julgamos útil compilar aqui, de forma mais simples e direta, alguns dos acontecimentos mais importantes. Fomos motivados por nossa experiência pessoal, de muitas vezes querermos citar datas e lugares precisos e não conseguirmos encontrar de pronto as referências. Também pode ser de alguma utilidade dispor de um painel sucinto dos fatos, que permita sua visualização global.
Naturalmente, sabemos que o que mais importa não são os nomes, as datas e os lugares, mas a sua significação histórica, científica e filosófica. O pesquisador cuidadoso não poderá dispensar a respeitável obra de Thiesen e Wantuil. Também deve-se lembrar que a segunda parte das Obras Póstumas de Allan Kardec consiste de textos de enorme relevância para a história do Espiritismo, repletos, como não poderia deixar de ser, de preciosas considerações doutrinárias. O mesmo vale para os volumes da Revue Spirite editados por Kardec.
Há algumas outras fontes sobre o Espiritismo e sua história, que podem ser consultadas, embora nem de longe se aproximem, em abrangência e precisão, da que nos legaram Thiesen e Wantuil. Entre elas encontram-se:
Moreil, André. La vie et l'Œvre d'Allan Kardec. Paris, Vermet, sem data. (Wantuil menciona outra edição parisiense, Éditions Sperar, de 1961; Thiesen se refere a uma tradução para o vernáculo, de Miguel Maillet, publicada sem data pela Edicel. Ver Allan Kardec, vol. I, pp. 79 e 26, respectivamente.)
Sausse, Henri. Biographie d'Allan Kardec. 4a ed., Paris, Éditions Jean Meyer, 1927. A Federação Espírita Brasileira faz figurar uma tradução dessa biografia em sua edição de O que é o Espiritismo, sem indicação do tradutor. {nota 1}
Para facilidade de referência, adotaremos as seguintes abreviaturas:
AK I, AK II e AK III respectivamente volumes I, II e III da obra Allan Kardec.
OP Obras Póstumas
RS ou Revue Revue Spirite
SPES Société Parisienne des Études Spirites
FEB Federação Espírita Brasileira
Os números que aparecerão diante desses símbolos referem-se a páginas das obras, salvo indicação em contrário. Utilizamos a 1a edição de Allan Kardec e a 18a edição da tradução febiana de Obras Póstumas, traduzida por Guillon Ribeiro (confrontada com o original francês: Paris, Dervy-Livres, 1978).


2. Hippolyte-Léon Denizard Rivail

1804 - (3/10) - Nascimento de Hippolyte-Léon Denizard Rivail, o futuro Allan Kardec, em Lyon, a segunda maior cidade francesa depois de Paris. Seus pais foram Jean-Baptiste Antoine Rivail, homem de leis, e Jeanne Louise Duhamel, residentes à Rue Sale, 76; essa casa foi demolida ainda em meados do século XIX. (AK I 29)

1815 - Rivail segue para o Instituto de Johann Heinrich Pestalozzi para continuar seus estudos. O Instituto ficava na cidade de Yverdon, Suíça, e funcionava em regime de internato. Os alunos recebiam ali educação integral esmerada, segundo inovador método pedagógico do famoso professor, baseado na convicção de que o amor é o eterno fundamento da educação. (AK I caps. 2 a 11 e 15)

1822 - Rivail deixa Yverdon e instala-se em Paris. Não há certeza plena sobre essa data. Sabe-se que em janeiro de 1823 já residia à Rue de la Harpe, 117. Confirma-se também que pelo menos de 1828 a 1831 morou na Rue de Vaugirard, 65. (AK I caps. 12 e 21)

1824 - Rivail publica o seu primeiro livro didático, o Cours pratique et théorique d'arithmétique, concebido segundo o método pestalozziano. Foi publicado em Paris na Imprimerie de Pillet Ainé, Rue Christine, 5. (AK I caps. 14 e 16)

1825 - Rivail funda a sua primeira escola, a École de Premier Degrée. (AK I cap. 18)

1826 - É fundada a Institution Rivail, instituto técnico, sito à Rue de Sèvres, 35; funcionou até 1834. Neste mesmo local existiria depois o Lycée Polymathique, dirigido também por Rivail, até 1850, quando foi cedido a A. Pilotet. A partir dessa data o Prof. Rivail não mais exerceria atividades didáticas. (AK I cap. 19 e pp. 131, 145 e 146)

1828 - Rivail dá a público o "Plan proposé pour l'amélioration de l'éducation publique", sugerindo diretrizes para a educação pública. (AK I cap. 21)

1831 - Aparece, da autoria de Rivail, a Grammaire Française Classique sur un nouveau plan. (AK I cap. 22)

1832 - Casa-se com Amélie-Gabrielle Boudet (1795-1883), que seria sua dedicada companheira e apoio de todos os momentos, até a sua desencarnação. Conhecida mais tarde entre os espíritas como "Madame Allan Kardec", Amélie-Gabrielle era professora e colaborou com o esposo em suas atividades didáticas. Nunca tiveram filhos, conforme explicitamente se lê na Revue Spirite de 1862. (AK I cap. 20, III 45)


Rivail e sua esposa foram pessoas dignas, de moralidade inatacável, dedicando-se integralmente ao cultivo dos ideais superiores da cultura, da educação, do bem. Lutaram a favor das causas da liberdade de ensino e da educação para meninas. Rivail ministrou por muitos anos cursos gratuitos para crianças pobres. Além de mestre, foi sempre amigo dos alunos. (AK I cap. 23 a 29)

Do ponto de vista material, o casal Rivail levou vida simples, não raro enfrentando dificuldades econômicas. Na fase espírita, seus parcos recursos seriam empregados na publicação das obras iniciais e em outras despesas referentes ao Espiritismo. Nos anos de maiores limitações, Rivail complementou sua receita com empregos temporários modestos, como o de contador. (AK I cap. 33)

Há referências seguras de cerca de 21 textos publicados pelo Prof. Rivail, entre livros didáticos e opúsculos diversos referentes à educação. (AK I cap. 37)

Rivail possuía sólida erudição, conhecendo bastante bem as diversas ciências, a filosofia e as artes. Traduziu obras alemãs e inglesas para o francês, e vice-versa. Foi membro de diversas academias culturais, possuindo vários diplomas. (AK I caps. 22, 30, 35)

Contrariamente ao que afirmou Henri Sausse, e alguns mantém até hoje, Rivail não foi médico (AK I cap. 31). Também não há evidência de que tenha sido maçon, sendo mais razoável assumir que não o foi (AK I cap. 32).


3. Das observações iniciais à primeira edição de O Livro dos Espíritos

1848 - Início dos famosos fenômenos espíritas que envolveram a família Fox, em Hydesville (EUA). A 28 de março verificam-se as primeiras manifestações físicas; três dias após, estabeleceu-se a primeira comunicação tiptológica. Em poucos anos, fenômenos semelhantes passaram a chamar a atenção pública não somente nos Estados Unidos, mas também na Europa. Foi a fase das chamadas "mesas girantes". (AK II 49-60; ver também As Mesas Girantes e o Espiritismo, de Zêus Wantuil, publicado pela FEB.)

1854 - Rivail é informado pelo Sr. Fortier, magnetisador seu conhecido, acerca da ocorrência dos fenômenos das mesas girantes. Embora estranhando-os, não os julgou impossíveis, já que poderiam ter alguma causa física ainda não bem determinada. No entanto, algum tempo depois esse mesmo Sr. Fortier lhe disse que as mesas também "falavam", isto é, davam sinais de inteligência. A reação agora foi cética: "Só acreditarei quando o vir e quando me provarem que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir e que possa tornar-se sonâmbula." (OP 265; AK II 62)

1855 - No início desse ano, o Sr. Carlotti faz-lhe longo relato dos singulares fenômenos. Embora Rivail o conhecesse há 25 anos, mais uma vez expressa reservas, dado o temperamento exaltado do amigo, tão em oposição ao seu. (OP 266; AK II 124)

1855 - Em maio, Rivail vai, em companhia de Fortier, à casa da Sra. Roger, sonâmbula, onde conhece o Sr. Pâtier e a Sra. Plainemaison. Este lhe fala dos fenômenos, mas com seriedade e frieza, o que o predispõe, finalmente, a observar os fatos. (OP 266)

1855 - Assim foi que, ainda em maio, a convite de Pâtier, Rivail assiste a algumas experiências na casa da Sra. Plainemaison, sita à Rue Grange-Batelière, 18. Rivail impressiona-se com os fenômenos, que se verificavam em condições "que não deixavam lugar para qualquer dúvida. [...] Havia ali um fato que necessariamente decorria de uma causa. Eu entrevia naquelas aparentes futilidades [...] qualquer coisa de sério, como que a revelação de uma nova lei, que tomei a mim estudar a fundo."(OP 267; AK II 64)

1855 - Numa dessas reuniões, conhece a família Baudin, então residente à Rue Rochechouart (a partir de 1856 iria para a Rue Lamartine; ver AK 64). Convidado pelo Sr. Baudin, passou a freqüentar assiduamente as sessões semanais que se realizavam em sua casa. Os médiuns eram as filhas do casal, Caroline e Julie, que no início escreviam com o auxílio de uma estinha. {nota 2}De numerosas e frívolas que eram, sob a influência de Rivail as reuniões passaram a reservadas e sérias, dedicadas à pesquisa racional e metódica do novo domínio. "Compreendi, antes de tudo, a gravidade da exploração que ia empreender; percebi, naqueles fenômenos, a chave do problema tão obscuro e tão controvertido do passado e do futuro da humanidade [...]. Era, em suma, toda uma revolução nas idéias e nas crenças; fazia-se mister, portanto, andar com a maior circunspeção, e não levianamente; ser positivista e não idealista, para não me deixar iludir" (OP 267-68; AK II 64). Rivail submetia aos Espíritos séries de questões visando a elucidar problemas relativos à filosofia, à psicologia e à natureza do mundo invisível. Um grupo de intelectuais encarregou-o de analisar e joeirar cerca de 50 cadernos com comunicações espirituais diversas. (AK II 71, 68 e 125)

1856 - Nesse ano passou a freqüentar também as reuniões espíritas da casa do Sr. Roustan, na Rue Tiquetonne, 14. O médium era a Srta. Japhet, sonâmbula. As anotações de Rivail, provenientes em grande parte das comunicações obtidas pelas Srtas. Baudin, tomaram as proporções de um livro, embora se saiba que por volta de abril ainda não estava claro para ele que deveria ser um dia publicado (OP 276). Depois que isso se tornou evidente, foi por intermédio da Srta. Japhet que os Espíritos auxiliaram Rivail a fazer uma revisão completa do texto já elaborado. Era o Livro dos Espíritos. (OP 270, 276 e 277; AK II 72)

1856 - A 30 de abril, pela mediunidade da Srta. Japhet, Rivail tem a primeira notícia de sua missão, em linguagem bastante alegórica. Outras se seguiram, de cunho mais positivo. O conjunto dessas comunicações e, principalmente, os comentários de Rivail indicando sua reação, constitui leitura obrigatória para todo espírita, por sua beleza e elevada significação. (OP 277-87; AK II 69 e 72)

1857 - No início desse ano o texto manuscrito de O Livro dos Espíritos está concluído; o editor, E. Dentu, envia-o à Imprimerie de Beau, em Saint-Germain-en-Laye, que dista 23 km de Paris, a oeste (AK II 73 e 75). As despesas correm inteiramente por conta de Rivail (AK II 257). O casal Rivail residia então à Rue des Martyrs, 8, no segundo andar, nos fundos do pátio, onde estava pelo menos desde março de 1856 (OP 273).

1857 - A 18 de abril, vem à luz a primeira edição de O Livro dos Espíritos (Le livre des Esprits). Contendo os princípios da doutrina espírita sobre a natureza dos Espíritos, suas manifestações e suas relações com os homens; as leis morais, a vida presente, a vida futura e o porvir da humanidade; escrito sob o ditado e publicado por ordem de Espíritos Superiores por Allan Kardec. Paris, E. Dentu, Libraire, Palais Royal, Galerie d'Orléans, 13.{nota 3}

Essa primeira edição contém 501 questões, distribuídas em 3 partes (176 pp.). Afora a tábua dos capítulos, há um útil índice analítico ("Table alphabétique"). Não há conclusões; apenas um Epílogo, de menos de uma página. As notas de Rivail, em número de 17, vêm todas no final, ocupando 12 páginas. Ao longo de toda a primeira parte ("Livre premier. Doctrine spirite.") adota-se uma forma de exposição dupla: na coluna da esquerda, perguntas e respostas; na da direita, o texto corrido equivalente. É nesta obra que Rivail adota o pseudônimo de Allan Kardec nome que teria tido em antiga encarnação entre os druidas, sacerdotes do povo celta, que ocupou a Gália, a Grã-Bretanha e a Irlanda (AK II 74-80). No Epílogo, anuncia-se para breve a publicação de um suplemento, contendo novos ensinos. No entanto, Kardec acaba desistindo da idéia, elaborando, em seu lugar, uma segunda edição "inteiramente refundida e consideravelmente aumentada", que viria a público em março de 1860 (ver seção 6 deste nosso trabalho). Em 1957 Canuto Abreu publicou edição bilíngüe da primeira edição de O Livro dos Espíritos, sob o título O Primeiro Livro dos Espíritos (São Paulo, Companhia Editora Ismael).


4. A Revista Espírita (Revue Spirite)

1858 - A 1o de janeiro Kardec lança o primeiro número da Revista Espírita (Revue Spirite), jornal de estudos psicológicos. Contendo o relato das manifestações materiais ou inteligentes dos Espíritos, aparições, evocações, etc., assim como todas as notícias relativas ao Espiritismo. O ensino dos Espíritos sobre as coisas do mundo visível e do mundo invisível; sobre as ciências, a moral, a imortalidade da alma, a natureza do homem e seu porvir. A história do Espiritismo na Antigüidade; suas relações com o magnetismo e o sonambulismo; a explicação das lendas e crenças populares, da mitologia de todos os povos, etc. Paris; bureau à Rue des Martyrs, 8.

O primeiro número, com 36 páginas, foi impresso na Imprimerie de Beau, em Saint-Germain-en-Laye, a mesma que já imprimira O Livro dos Espíritos; as despesas, como no caso desse livro, também ficaram por conta e risco de Kardec (AK III 21-33; II 76). A Revista era de periodicidade mensal e durante a vida de Kardec funcionou em sua própria residência, ou seja:

1o /1/1858 - Rue des Martyrs, 8.
15/7/1860 - Passage Ste.-Anne (Rue Ste.-Anne, 59).
1/4/1869 - Nessa data estava programada a transferência dos Escritórios e do Expediente para a Librairie Spirite,* Rue de Lille, 7, que também sediaria provisoriamente a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas; a Redação iria para a Villa Ségur (Av. de Ségur, 39), casa de propriedade de Kardec pelo menos desde 1860, para a qual se mudaria com a dedicada esposa. (AK III 21-24, 35-37, 118-19; II, pp. 24-25)
Era Kardec quem redigia integralmente a revista e cuidava de toda sua correspondência e expedição, trabalho hercúleo suficiente para consumir todo o tempo de uma pessoa ordinária. E isso era apenas uma parte de seus trabalhos, havendo ainda os livros, a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, as centenas de visitantes anuais, as viagens...{nota 4}

A Revue Spirite constitui rico manancial doutrinário, pouco explorado pelos espíritas. Os originais franceses, ainda necessários para pesquisas cuidadosas, são raríssimos em todo o mundo. Kardec discorre sobre a idéia da criação da Revista em OP 293-94. Em suas própria palavras, ela tornou-se-lhe "poderoso auxiliar" na elaboração da doutrina e na implantação do movimento espírita (AK III 22; OP 294). Seus objetivos principais eram (AK III 21-33; II 24-25):

Veicular relatos e análises espíritas de fenômenos espíritas, psicológicos, sociológicos etc.;
Publicar produções mediúnicas selecionadas, obtidas na SPES ou enviadas por correspondentes;
Sondar a opinião dos homens e dos Espíritos sobre princípios em elaboração;
Comentar, à luz do Espiritismo, artigos de jornais, obras literárias, filosóficas e científicas.
Kardec editou a Revue até o número de abril de 1869, inclusive. Após a morte de Kardec (31/3/69) ela continuou sendo publicada, graças ao idealismo da Senhora Allan Kardec, de Pierre-Gaëtan Leymarie e de Jean Meyer, principalmente (AK III 153-57; Reformador, 09/1990, p. 286). A partir de 1913, aditou-se ao título da revista o artigo 'la' ('a'), que ficou, desde então 'La Revue Spirite' (AK III 32 e 47). Em lamentável decisão, foi extinta em 1976 por André Dumas, junto com a Union Spirite Française,{nota 5} para dar lugar a Renaître 2000 e a Union des Sociétés Francophones pour l'Investigation Psychique et l'Étude de la Survivance (USFIPES), ambas de cunho não-espírita. Sob a lúcida e firme direção de Francisco Thiesen, a FEB envidou esforços para salvá-la em 1977, não obtendo sucesso (AK III 45-57). Felizmente, em 11 de maio de 1989 a Union Spirite Française et Francophone, com sede em Tours, conseguiu judicialmente recuperar o título, retomando a publicação da Revue, com periodicidade trimestral.{nota 6}


5. A Société Parisienne des Études Spirites (SPES)

1857 - Por volta de outubro desse ano iniciaram-se reuniões espíritas na residência do casal Allan Kardec, à Rue des Martyrs, 8. Aconteciam às terças-feiras à noite, e o médium principal era a Srta. Ermance Dufaux. Com o número crescente de freqüentadores, fez-se indispensável encontrar um local mais amplo. A solução encontrada foi alugar uma sala, cotizando-se as despesas entre as pessoas. (OP 294-95; AK III 34)

1858 - A 1o de abril é fundada legalmente a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, ou, em francês, Société Parisienne des Études Spirites, cujo título Kardec freqüentemente abreviava para 'Societé Spirite de Paris', 'Societé des Études Spirites', ou mesmo 'Societé de Paris'.

Foi nas reuniões semanais da Société que boa parte das atividades mediúnicas e de estudo supervisionadas por Kardec se desenvolveram. As portas da SPES não eram abertas ao público, conquanto houvesse "reuniões gerais" em que visitantes apresentados por membros da Société podiam ser admitidos; essas reuniões se alternavam, semanalmente, com as "reuniões particulares", às quais somente os sócios tinham acesso. Isso se compreende perfeitamente, dados os objetivos das reuniões, ligados essencialmente à pesquisa teórica e experimental dos fenômenos. A Société era, assim como a Revue, um terreno de elaboração da doutrina espírita. (OP 294-95; AK III 34-44; II 36-37)

Durante a vida de Kardec, a Sociedade Espírita de Paris ocupou três endereços (OP 295; AK III 35-37 e 118):

1o /4/1858 - Galerie de Valois, 35, no Palais Royal. As reuniões eram às terças-feiras. O Palais Royal é importante edifício histórico situado ao lado do Louvre. Foi construído pelo Cardeal Richelieu no século XVII. Suas elegantes galerias externas, que circundam o jardim (Montpensier, de Beujolais e de Valois), foram mandadas construir por Louis-Philippe d'Orléans, na segunda metade do século seguinte. Na Galerie d'Orléans (do séc. XIX) ficavam as livrarias de Dentu (no 13) e Ledoyen (no 31), que editaram várias das obras espíritas de Kardec (ver adiante).
1o /4/1859 - Galerie Montpensier, 12, no Palais Royal (num salão do restaurante Douix). Nesse local SPES reunia-se às sextas-feiras.
20/4/1860 - Passage Ste.-Anne (Rue Ste.-Anne, 59). Nesse mesmo endereço, a partir de 15 de julho, passa a residir Kardec, que levou consigo a Revue Spirite. Embora por essa época já possuísse a casa da tranqüila Villa Ségur, Allan Kardec viu-se na contingência de se alojar nesse apartamento com a abnegada esposa, dividindo espaço com a Revue e a SPES, para economizar seu minguado tempo.
1/4/1869 - Estava programada para essa data a transferência provisória da Société para a Librairie Spirite, Rue de Lille, 7.
6. As outras obras importantes de Allan Kardec

Fornecemos a seguir alguns dados sobre as principais obras de Allan Kardec (além de O Livro dos Espíritos, de que já tratamos; para uma lista possivelmente completa, ver AK III 15, 18 e 19). Algumas das informações referentes a dias e meses das publicações foram colhidas nas edições da FEB. Quanto às edições em francês atuais, indicamos as que pessoalmente possuímos; em alguns casos, há nas livrarias outras edições. Abreviaremos os dados referentes aos editores originais segundo estas convenções (note-se que várias das obras saíram por mais de um editor):

Dentu E. Dentu, Libraire. Palais Royal, Galerie d'Orléans, 13.
Ledoyen Ledoyen, Libraire. Palais Royal, Galerie d'Orléans, 31.
Didier Didier et Cie., Libraires-Éditeurs. Quai des Augustins, 17.{nota 7}
1858 - Instrução Prática sobre as Manifestações Espíritas (Instruction pratique sur les manifestations spirites). Contendo a exposição completa das condições necessárias para se comunicar com os Espíritos, e os meios de se desenvolver a faculdade mediadora nos médiuns. Bureau de la Revue Spirite, Rue des Martyrs, 8; Dentu; Ledoyen.

Com a publicação de O Livro dos Médiuns, em 1861, Kardec não mais fez imprimir a Instruction (152 pp.), à época já esgotada, considerando-a superada, quanto à abrangência, pela nova obra. É, porém, de significativo valor histórico; hoje está novamente disponível em francês (Paris, La Diffusion Scientifique) e em português, em tradução de Cairbar Schutel (in: Iniciação Espírita, 6a ed., São Paulo, Edicel, 1977; também publicado pela Casa Editora O Clarim, de Matão, em 1987).


1859 - O que é o Espiritismo (Qu'est-ce que le Spiritisme). Introdução ao conhecimento do mundo invisível pelas manifestações dos Espíritos, contendo o resumo dos princípios da doutrina espírita e respostas às principais objeções. Ledoyen. [100 pp.]{nota 8}

Edição francesa corrente: Paris, Dervy-Livres. Tradução brasileira recomendada: Rio, FEB (não se indica o tradutor).


1860 - (março) - Segunda edição de O Livro dos Espíritos. Contendo os princípios da doutrina Espírita sobre a imortalidade da alma, a natureza dos Espíritos e suas relações com os homens; as leis morais, a vida presente, a vida futura e o porvir da humanidade. Segundo o ensino dado pelos Espíritos Superiores com o auxílio de diversos médiuns, recolhidos e ordenados por Allan Kardec. Segunda edição, inteiramente refundida e consideravelmente aumentada. Didier; Ledoyen.

Acima do título, aparece agora a frase "Filosofia espiritualista". Essa nova edição, que se tornou definitiva, tem 1019 questões, distribuídas em quatro partes. São acrescentadas as Conclusões; não há mais índice alfabético, infelizmente. A forma de exposição dupla não aparece em nenhuma das partes. As notas vêm agora logo após as respostas dos Espíritos, sendo muitíssimo mais numerosas; é fácil ver que muitas delas provêm do texto corrido da primeira parte da primeira edição.{nota 9}

1861 - (15 de janeiro) - O Livro dos Médiuns (Le livre des médiums), ou guia dos médiuns e dos evocadores. Contendo o ensino especial dos Espíritos sobre a teoria de todos os gêneros de manifestações, os meios de se comunicar com o mundo invisível, o desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades e os escolhos com que se pode deparar na prática do Espiritismo. Para fazer seqüência ao Livro dos Espíritos. Didier; Ledoyen. [498 + iv pp.; AK III 173]

1861 - Segunda edição de O Livro dos Médiuns. Revista e corrigida com o concurso dos Espíritos, e acrescida de grande número de instruções novas. Didier; Ledoyen. [510 + viii pp.]

Edição francesa corrente: Paris, Dervy-Livres. Edição brasileira recomendada: FEB, tradução de Guillon Ribeiro, inteiramente revista a partir da 59ª edição.


1862 - (fevereiro) - O Espiritismo na sua Expressão mais simples (Le Spiritisme à sa plus simple expression). Exposição sumária do ensino dos Espíritos e de suas manifestações. Ledoyen. [36 pp.]

Em 1994 esse opúsculo foi reeditado pelo Centre d'Études Spirites Allan Kardec, de Paris. Existem várias traduções para o vernáculo, sendo hoje disponíveis as de Dafne R. Nascimento, publicada pela Federação Espírita do Estado de São Paulo em 1984, e a de Joaquim da Silva Sampaio Lobo (in: Iniciação Espírita, 6a ed., São Paulo, Edicel, 1977).{nota 10}

1862 - Viagem Espírita em 1862 (Voyage spirite en 1862). Contendo: 1. As observações sobre o estado do Espiritismo; 2. As instruções dadas por Allan Kardec nos diferentes grupos; 3. As instruções sobre a formação dos grupos e das sociedades, e um modelo de regulamento para o uso deles e delas. Ledoyen. [64 pp.]

Esse livro é atualmente publicado em Paris pela Éditions Vermet; no Brasil, em Matão, pela Casa Editora O Clarim, em tradução de Wallace Leal Rodrigues. Em nenhuma dessas edições constam dizeres após o título; tomamo-los de AK III 18, onde não se esclarece se estavam nas edições originais. Afora as mencionadas instruções e regulamento, o corpo da obra consiste de três discursos proferidos por Kardec aos espíritas de Lyon e Bordeaux em sua famosa viagem.


1864 - (abril) - Imitação do Evangelho segundo o Espiritismo (Imitation de l'Évangile selon le Spiritisme). Contendo a explicação das máximas morais do Cristo, sua concordância com o Espiritismo e sua aplicação às diversas posições da vida. Por Allan Kardec, autor do Livro dos Espíritos. Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade. Paris, os editores do Livro dos Espíritos; Ledoyen, Dentu, Fréd. Henri, livreiros, no Palais Royal, e no escritório da Revue Spirite, Rue e Passage Sainte-Anne, 59.

Essa obra, impressa na Imprimerie de P.-A. Bourdier et Cie, Rue Mazarine, 30, possui 444 + xxxvi páginas. É precursora de O Evangelho segundo o Espiritismo, e não mais seria impressa por Kardec após a publicação deste, em 1866. No entanto, é de grande valor histórico, sendo essa a razão pela qual em 1979 a FEB reeditou-a em reprodução fotográfica. Não temos notícia de outras edições recentes, nem de traduções. Naturalmente, 'imitação' aqui não se deve entender no sentido hoje popular, de 'cópia', mas no de 'prática' (ver a introdução de Hermínio Miranda à edição febiana para esclarecimentos adicionais).


1865 - (1o de agosto) - O Céu e o Inferno, ou a Justiça Divina segundo o Espiritismo (Le ciel et l'enfer, ou la justice divine selon le Spiritisme). Contendo o exame comparado das doutrinas sobre a passagem da vida corporal à vida espiritual, as penas e recompensas futuras, os anjos e os demônios, as penas eternas, etc.; seguido de numerosos exemplos acerca da situação real da alma durante e depois da morte. "Por mim mesmo juro, disse o Senhor Deus, que não quero a morte do ímpio, senão que ele se converta, que deixe o mau caminho e que viva." (Ezequiel, 33:11). Paris; os editores de O Livro dos Espíritos, Librairie Spirite.

Em nossos dias, está disponível edição belga da Éditions de l'Union Spirite. A tradução da FEB é, neste caso, de Manuel Quintão. (AK III 108 faz menção à "21a edição, revista, 1974.)


1866 - O Evangelho segundo o Espiritismo (L'Évangile selon le Spiritisme).

Os dizeres da página de rosto são idênticos aos de L'Imitation, exceto pela data e pela frase "Terceira edição, revista, corrigida e modificada". Vê-se, portanto, que Kardec considerava esta obra uma nova edição da anterior, apesar da simplificação do título. Segundo se lê no prefácio de Thiesen à edição da FEB de L'Imitation, a segunda edição, de 1865, seria apenas outra tiragem do primeiro livro. No entanto, em AK III 18 esse mesmo autor escreve: "Da 2a ed. - 1865 - em diante, essa obra tomou novo título...". Para que esta última informação seja compatível com a anterior, deve-se entender aqui '2a edição exclusive'.* De qualquer modo, é a terceira edição que se tornou definitiva, servindo de base para as edições posteriores em francês e nos vários idiomas em que foi traduzida. Também devido à sua raridade e seu valor histórico, a FEB lançou, em 1979, uma reprodução fotográfica dessa edição. Na França, é hoje em dia publicada por La Diffusion Scientifique. Em português, a tradução clássica recomendada é a de Guillon Ribeiro (FEB), inteiramente revista a partir da 104a edição.


1868 - (6 de janeiro) - A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo (La genèse, les miracles et les prédictions selon le Spiritisme). Paris, Librairie Internationale. *

Esse foi o último livro publicado por Kardec. Pode ser encontrado hoje em edição da La Diffusion Scientifique, de Paris. A corrente edição da FEB foi traduzida por Guillon Ribeiro.


1890 - (janeiro) - Obras Póstumas (Œuvres Posthumes). Paris, Société de Librairie Spirite. [450 pp.]

Editado por Pierre-Gaëtan Leymarie, esse livro reúne importantes textos de Kardec, quer de caráter teórico, sobre diversos assuntos, quer sobre fatos relativos às atividades espíritas do mestre. Em AK III 19 lê-se que uma segunda edição veio a lume ainda no mesmo ano de 1890. Guillon Ribeiro traduziu o livro para a FEB, a partir da primeira edição francesa. A edição atual da Dervy-Livres conta com controversos comentários, introdução e notas de André Dumas.


Consoante ao objeto deste nosso trabalho, a lista acima contém apenas os textos mais importantes e, sobre eles, apenas algumas informações básicas. O volume III da obra Allan Kardec é de consulta obrigatória para o estudioso que queira acercar-se da fonte mais extensa e segura de dados sobre o conjunto da produção de Kardec.


7. A partida de Allan Kardec e alguns acontecimentos posteriores

1869 - (31 de março) - Desencarna subitamente Allan Kardec, enquanto atende a um caixeiro de livraria, no seu apartamento da Rue Ste.-Anne, muito provavelmente vitimado pela ruptura de um aneurisma de aorta (AK III 110, 116 e 119). No dia seguinte, deveria desocupar esse imóvel, indo para a casa da Villa Ségur; os escritórios da Revue iriam para a Rue de Lille, Librairie Spirite, que sediaria também a SPES.

O corpo foi sepultado ao meio-dia de 2 de abril, no cemitério de Montmartre. Estima-se que mais de mil pessoas acompanharam o cortejo, que seguiu pelas ruas de Grammont, Laffitte, Notre-Dame-de-Lorette, Fontaine e pelo Boulevard de Clichy. À beira da sepultura, Camille Flammarion, astrônomo e médium da SPES, pronunciou o seu importante discurso, que a FEB fez figurar na sua edição de Obras Póstumas. Na primeira reunião da SPES após esse fato, os membros presentes lançaram a idéia de se levantar um monumento ao mestre, que logo recebeu adesão de espíritas de muitas cidades. Foi assim que se fez construir o famoso dólmen do cemitério Père-Lachaise, para onde os restos mortais de Kardec foram transladados a 29 de março de 1870.


1870 - (31 de março) - Inaugura-se o monumento druida do Père-Lachaise. Esse famoso cemitério é considerado museu, tendo sido ali sepultados inúmeros dos grandes vultos franceses e mesmo de outros países. O de Kardec é o túmulo mais visitado e o mais florido de todos.{nota 11}

Quando de sua inauguração, o dólmen não registrava a célebre frase "Nascer, morrer, renascer ainda e progredir continuamente, tal é a lei", que foi insculpida ainda em 1870. Ao contrário do que muitas vezes se afirma, essa frase não se deve textualmente ao próprio Kardec, não obstante represente corretamente o pensamento espírita (AK III 118-152).


1871 - ( junho) - Pierre-Gaëtan Leymarie assume a gerência da Revue e da Librairie Spirite (AK III 157).

1875 - Vêm à público as primeiras edições brasileiras de livros de Kardec (excetuando-se o já citado opúsculo O Espiritismo na sua Expressão mais simples, publicado em São Paulo em 1862; ver nota no 10, acima): O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns e O Céu e o Inferno, traduzidos por Fortúnio, pseudônimo do Dr. Joaquim Carlos Travassos. No ano seguinte também apareceria, pelo mesmo tradutor, O Evangelho Segundo o Espiritismo. O Editor dessas obras foi B. L. Garnier, do Rio de Janeiro. (AK III 175-80)

1883 - (21 de janeiro) - Morre Madame Allan Kardec. Dois dias após seu corpo é sepultado junto ao do esposo, no Père-Lachaise, saindo o féretro de sua casa na Villa Ségur. Amélie-Gabrielle Boudet nascera em 1795, a 23 de novembro, e não a 21, como se insculpiu no túmulo. (AK III 158-60)

1883 - (21 de janeiro) - Fundação da revista Reformador, por Augusto Elias da Silva.

1884 - (2 de janeiro) - Fundação da Federação Espírita Brasileira, também por Augusto Elias da Silva.

1898 - A Revue muda-se da Rue du Sommerard, 12 para a Rue St.-Jacques, 42, onde permaneceu por algumas décadas; no local existe hoje a Librairie Leymarie, que pertenceu a Pierre-Gaëtan Leymarie. (AK III 226-27)

1923 - Jean Meyer funda a Maison des Spirites, na Rue Copernic, 8 (AK I 172; cf. porém AK III 203 *). Continha arquivos importantes que forma destruídos pelos nazistas. Sediou a Éditions Jean Meyer (B.P.S), que publicou muitas das obras clássicas do Espiritismo, bem como a Revue, de 1923 a 1971, quando morreu Hubert Forestier (AK III 227).


8. Relação dos endereços:

Fornecemos abaixo uma relação dos principais endereços ligados ao Espiritismo na França, destinada a facilitar visitas e a localização em mapas:


Rue Sale, 76 (Lyon) - Local onde nasceu Rivail.
Rue de la Harpe, 117 - Rivail estava nesse endereço em janeiro de 1823.
Rue Vaugirard, 65 - Rivail esteve nesse endereço pelo menos de 1828 a 1831.
Rue Christine, 5 - Imprimerie de Pilet-Ainé, que em 1824 publicou o primeiro livro de Rivail.
Rue de Sèvres, 35 - Institution Rivail, de 1826 a 1834; Lycée Polymathique, até 1850.
Rue Grange-Batelière, 18 - Casa da Sra. Plainemaison, onde Rivail fez as primeiras observações, em maio de 1855.
Rue Rochechouart - Família Baudin, 1855. Aqui começaram as pesquisas sistemáticas de Rivail.
Rue Lamartine - Novo endereço dos Baudin, a partir de 1856. Grande parte do trabalho inicial de Kardec desenvolve-se nas reuniões dessa família.
Rue Tiquetonne, 14 - Casa do Sr. Roustan. Com a médium Srta. Japhet, Rivail desenvolveu importantes trabalhos, incluindo a revisão do Livro dos Espíritos.
Rue des Martyrs, 8 (segundo andar, ao fundo do pátio) - Residência de Rivail pelo menos desde março de 1856, ficando até 14/7/1860. Em outubro de 1857, começaram aí as reuniões de estudo que dariam origem à SPES. No local foi publicada 1a ed. de O Livro dos Espíritos (18/4/57) e lançada a Revue Spirite (1/1/58).
Saint-Germain-en-Laye (23 km oeste de Paris) - Imprimerie de Beau, que imprimiu a 1a ed. de O Livro dos Espíritos e a Revue Spirite.
Galerie d'Orléans, 13 (Palais Royal) - Dentu, editor da 1a ed. do Livro dos Espíritos, da Instrução Prática, da Imitação e do Evangelho.
Galerie d'Orléans, 31 (Palais Royal) - Ledoyen, editor da 2a ed. do Livro dos Espíritos, da Instrução, do Livro dos Médiuns, do Espiritismo em sua Expressão mais simples, da Viagem Espírita, da Imitação, do Evangelho e do Céu e o Inferno.
Galerie de Valois, 35 (Palais Royal) - primeiro endereço da SPES, a partir de 1/4/58 (reuniões às terças-feiras)
Galerie de Montpensier, 12 (Palais Royal; restaurante Douix) - segundo endereço da SPES, a partir de 1/4/59.
Quai des Augustins, 35 - Didier et Cie, editor da 2a ed. do Livro dos Espíritos, do Livro dos Médiuns e do Céu e o Inferno.
Rue Mazarine, 30 - Imprimerie de P.-A. Bourdier et Cie, que imprimiu L'Imitation de l'Évangile, em abril de 1864.
Passage Sainte-Anne (Rue Sainte-Anne, 59) - SPES, a partir de 20/4/60; domicílio de Kardec e Revue Spirite, a partir de 15/7/60;
Villa Ségur (Av. de Ségur, 39) - casa de propriedade de Kardec pelo menos desde 1860, para a qual se mudaria definitivamente em 1/4/1869. O casal por vezes usava a casa para recepcionar visitas e para realizar trabalhos que exigiam recolhimento. Amélie-Gabrielle ficou nela até sua morte, em 1883. Era desejo de Kardec que a casa se transformasse, quando não mais estivessem encarnados ele e a esposa, em abrigo para espíritas desvalidos.
Rue de Lille, 7 - Revue e SPES depois da morte de Kardec (31/3/69); aí já funcionava a Librairie Spirite.
Rue du Sommerard, 12 - Sediou a Revue por breve período, de 1897 (quando foi liquidada a Librairie Spirite *) a 1898 (AK III 202, 227 e 262).
Rue Saint-Jacques, 42 - Librairie Leymarie, que abrigou a Revue de 1898 até 1923 (AK III 227); existe ainda hoje como livraria espiritualista.
Rue Copernic, 8 - Maison des Spirites, fundada em 1923 por Jean Meyer (AK I 172), funcionou até a década de 1970. *
Rue Jean-Jacques Rousseau, 15 - Union Spirite Française, fundada em 1919 Jean Meyer e Gabriel Delanne; substituída em 1976 pela U.S.F.I.P.E.S.
Rue du Docteur Fournier, 1, 37000 Tours - Union Spirite Française et Francophone, que atualmente publica La Revue Spirite.
Rue de Flandre, 131, Résidence Île de France, bâtiment E1, 75019 Paris, tel.: (01)42090869- Centre d’Études Spirites Allan Kardec (em funcionamento).
Cemitério de Montmartre (região norte de Paris) - Sepultamento de Kardec a 2/4/69.
Cemitério do Père-Lachaise (região leste de Paris) - Sepultura definitiva de Kardec, a partir de 29/3/70; o dólmen é inaugurado dois dias depois.
Notas

1. A primeira edição dessa biografia data de 1896 e aparecia traduzida na coletânea O Principiante Espírita, que a FEB publicava no passado; a quarta edição foi prefaciada por Léon Denis (ver Allan Kardec, vol. I, pp. 200, 198 e 29; vol. II, p. 15). Há referências a uma "nouvelle édition", de 1910, com prefácio de Gabriel Delanne (ver ibid., vol III, p. 117 e vol II, p. 15). [volta]

2. Em Obras Póstumas, p. 271, há uma comunicação atribuída à mediunidade da Senhora ("Mme" ) Baudin; teria sido uma falha tipográfica, ou ela também era médium? Embora na página 267 Kardec diga que os médiuns eram "as duas senhoritas Baudin", nas comunicações mediúnicas transcritas nunca especifica qual serviu de médium, escrevendo simplesmente "Mlle Baudin". Na Revue Spirite de 1858 (ver AK II 64-65) Kardec refere-se explicitamente a uma série de comuncações transmitidas por Caroline, notando, incidentalmente, que "mais tarde o médium se serviu da psicografia direta". Em OP 271 Kardec relata que em fins de 1857 ambas se casaram e a família se dispersou, ficando implícito que não pôde mais contar com sua mediunidade. Em seus controversos comentários à edição bilíngüe da primeira edição de O Livro dos Espíritos (p. viii), Canuto Abreu avança que Caroline e a irmã tinham, em agosto de 1855, 16 e 14 anos, respectivamente, e que a mais velha era o médium principal; não pudemos confirmar essas informações em fontes independentes. [volta]

3. Esses dizeres que se seguem ao título são os que constam da página de rosto da obra (ver fac-símile à p. 75 de AK II). Observações semelhantem valem para os demais livros de Kardec mencionados nas seções seguintes. [volta]

4. Em 1866 sofreu séria crise de saúde, conseqüente à sobrecarga de trabalho e de preocupações, sendo assistido pelo Dr. Demeure, que o advertiu quanto aos limites das forças corporais. Por insistência desse Espírito, Kardec passou a contar, para a correspondência comum e a parte mais material das tarefas, com a ajuda de um secretário, o Sr. A. Desliens, médium e membro da SPES (*** AK III 111, 286, 301, 302 e 42). Com a desencarnação do mestre em março de 1869, Desliens ficou como secretário-gerente da Revue, até junho de 1871 (AK III 157, 136). [volta]

5. A Union Spirite Française foi fundada por Jean Meyer e Gabriel Delanne em 1919, não tendo relação direta com a antiga SPES, que encerrou suas atividades ainda no século passado, bem pouco tempo após a morte de Kardec. (AK II 16 e 17; III 156) [volta]

6. Notícia veiculada em Reformador, abril e maio de 1990, pp. 128 e 130, respectivamente; ver também La Revue Spirite, janeiro de 1997 (no 30), p. 7. Assinaturas podem ser feitas escrevendo-se para o endereço da USFF: 1, Rue du Docteur Fournier, 37000 Tours, France. Além de editar La Revue Spirite, a Union, promove o intercâmbio entre os grupos espíritas da França (pouco mais de uma dezena, a maioria de criação recente), e tem representado o movimento espírita francês no plano internacional. Segundo se depreende de artigo da autoria de Affonso Soares publicado em Reformador de novembro de 1986 (p. 341), a USFF teria sido fundada em fins de 1985, junto com uma publicação oficial, a Revue des Spirites. No entanto, no número de junho de 1989 do periódico febiano, o mesmo autor diz que a fundação da Union ocorreu em 1987; essa informação parece-nos incorreta. Neste artigo mais recente assevera-se ainda que a publicação trimestral se chama La Nouvelle Revue Spirite. Desse modo, antes de conseguir recuperar o título 'La Revue Spirite' o valoroso grupo espírita de Tours teria dado dois outros nomes à sua revista.[volta]

7. Pierre-Paul Didier foi um dos mais dedicados colaboradores de Kardec, membro fundador da SPES, tendo nela atuado como médium (AK III 377, 79, 323 e 82); desencarnou em 2/12/1865, mas como Espírito continuou diretamente envolvido nas atividades de Kardec (ibid. 85, 92, 289). [volta]

8. Não vimos a primeira edição; nas edições a que tivemos acesso, há divergência quanto ao texto que segue ao título. O que traduzimos consta da edição atual da Dervy. Nas notícias da segunda edição de O Livro dos Espíritos (ver fac-simile no Reformador de abril de 1989, p. 105) está do seguinte modo: "Introduction à la connaissance du monde invisible ou des Esprits, contenant les principes fondamentaux de la doctrine spirite et la réponse à quelques objections préjudicielles." O que se encontra em AK III 13 corresponde aproximadamente a esse texto. [volta]

9. Constatou-se, em época relativamente recente (ver Reformador, abril de 1989, pp. 104-107), que Kardec anexou à segunda edição algumas notas e erratas, destinadas a complementar e corrigir o texto. Pôde-se também verificar que na oitava edição elas ainda apareciam; não se sabe a partir de qual edição deixaram de figurar, nem por que Kardec não conseguiu inserir as correções e acréscimos refundindo o texto. Lamentavelmente, nem as edições francesas atuais nem as traduções para o vernáculo incorporam ou sequer mencionam as modificações, que o próprio Kardec considerava imprescindíveis. Parece-nos de suma importância que esse material venha a público de forma completa, e que seja incorporado nas novas edições. [volta]

10. Em AK III 18, 176 e 353-54 informa-se acerca de três traduções antigas: uma por Alexandre Canu, colaborador da SPES, "que se achava à venda com J.P. Aillaud, Monlon e C..., em Lisboa, Rio de Janeiro e em Paris (1862); outra publicada em São Paulo, sem indicação de tradutor, pela Typographia Litteraria (1866); e finalmente outra da FEB, traduzida e anotada por Guillon Ribeiro (não se menciona a data da primeira edição, dizendo-se apenas que ainda há nos arquivos exemplares de 1921 e 1933). [volta]

11. Destaca-se esse ponto no próprio mapa do cemitério. Na madrugada 2 de julho de 1989 o túmulo sofreu um atentado a bomba, que o danificou parcialmente, sendo posteriormente restaurado pela Prefeitura de Paris. (Reformador, julho de 1989, p. 194, e setembro de 1990, p. 284.)





Allan Kardec, Médium do Espírito de Verdade

Guillon Ribeiro
"Médium de Deus" foi como a Jesus chamou, em comunicação dada a Alexandre Bellemare, um dos elevados Espíritos que o assistiram na elaboração da sua esplêndida obra "Espírita e Cristão", pubiicada na mesma época em que o foram as do excelso missionário da Terceira Revelação.  Tãçí expressivo e justo achou este aquele cognome aplicado ao Mestre Divino, que, autorizado por Bellemare, também se servju!dele nalguns de seus livros, notadamente em "A Gênese", para designar o Filho do Homem no exercício do seu glorioso messianato.
Pois bem, com igual propriedade pensamos poder aplicar ao seu grande servo dos modernos tempos uma designação semelhante, cognominando-o de "Médium do Espírito de Verdade".
É certo que, dentro do papel que lhe coube no advento da Nova Revelação, ele foi, por excelência, segundo a denominação que se generalizou, o Codificador da Doutrina Espírita, com a tarefa especial de joeirar a imensidade de revelações parciais, de instruções e ensinamentos que do mundo invisível lhe chegavam, através de diversos médiuns, como abundante material destinado à grandiosa edificação que lhe cumpria erguer sobre as mesmas bases do puro Cristianismo - os Evangelhos.
Encarado como trabalho meramente humano, esse joeiramento e essa edificação poderiam parecer, embora com escasso fundamento, de importância secundária, em confronto com vários outros de gênero mais ou menos análogo, já anteriormente realizados.
De executá-lo, porém, como ele o executou, com perfeição tal que nem os mais meticulosos adversários do Espiritismo ainda puderam encontrar aí, à guisa de brecha favorável ao esforço em que se empenham por demoli-lo, uma contradição, um deslize, uma desconexão, uma falha de clareza, de lógica, ou de concatenação absoluta de princípios, só um médium excepcional seria capaz, um médium apto a manejar com inteira segurança e completa eficiência o instrumento da intuição, de modo a receber, em toda a luminosidade, o pensamento, não de um ou alguns Espíritos mais ou menos elevados, porém do conjunto daqueles que formam a coorte do Espírito de Verdade, refletor do pensamento do Cristo, Senhor do mundo terreno, diretor da humanidade que o habita, também, Ele mesmo, Espírito de Verdade.
É o que foi, acima de tudo, aquele a quem os espíritas chamam Mestre.  Pela altitude que já o seu Espírito galgara, pela excelsitude das aquisições morais e intelectuais que já o haviam qualificado para fazer parte daquela coorte de proeminentes seres espirituais, pôde ele, como homem, antecipando-se ao tempo, servir-se em larga escala, para a sua obra de verdadeiro missionário, desse instrumento - a intuição profunda, que será no futuro, segundo "A Grande Síntese,,, o das pesquisas que conduzirão a humanidade às culminâncias do progresso, por todas as suas sendas.
Legítimo é, conseguintemente. que, do ponto de vista dessa obra, o qualifiquemos de "Médium do Espírito de Verdade" e nele reconheçamos um "super-homem,,, do tipo dos de que fala aquele mesmo formidável trabalho também de natureza mediúnica - "A Grande Síntese".
Allan Kardec foi, portanto, um modelo, modelo do que virá a ser o homem da Porvindoura civilização do terceiro milênio, quando, integrados na verdadeira concepÇão de Deus e no seu amor, os encarnados viverão dentro de radiosa e sã atmosfera espiritual, em comunhão íntima com os altos planos da espiritualidade, a alargarem cada vez mais, pela intuição inerente a essa comunhão, a implantação do reino de Jesus na Terra.
Quanto à sua obra, já estudada, analisada e aprofundada, quer sob o aspecto científico, quer sob o aspecto filosófico-moral-religioso, se pode resumir em poucas palavras, dizendo-se que consistiu e consiste em reconduzir o homem a Deus pela trilha do Evangelho em espírito e verdade, escopo que ainda "A Grande Síntese", em todos os seus pontos, confirma plenamente ser o da Terceira Revelação, visto que a Lei social do Evangelho é a que presidirá, no seio daquela civilização, a todas as relações entre os homens, a todas as atividades e labores humanos.  Essa @recondução, porém, das criaturas ao Criador, não se dará, é claro, por efeito de nenhum ato milagroso, nem se daria assim, mesmo que-o milagre, no sentido
de derrogação das leis divinas ou naturais, não fosse inadmissível, por absurdo.
Pelo que ora se passa no mundo inteiro, como, corolário do que de há muito vem sendo preparado mediante a obiiteração do senso moral, do endurecimento dos corações em virtude do ascendente cada vez maior do egoísmo e do orgulho nas almas, facilmente se percebe que aquela recondução tem de ser feita pelo caminho inverso do que elas, as criaturas, tomaram para se afastarem, da Divindade e que foi o dos gozos materiais, da satisfação de todos os apetites grosseiros e de todas as ambições de que aqueles sentimentos enchem as almas.  Esse outro caminho não pode, pois, ser senão o da penitência viva, ao qual elas serão levadas pelas grandes provações que aí estão e pelas ainda mais duras e aflitivas que se anunciam, a fim de que nos corações renasça a fé que o materialismo da ciência aniquilou, com a cumplicidade das religiões, por ele também invadidas.
O Espiritismo, portanto, mais não é, afinal, do que uma exortação, qual tão ampla e vibrante ainda não houve, à penitência, para salvação dos que trocaram o tesouro do céu pelos da matéria, em cujo bojo, aliás, só encontram o único bem que lhes pode ela proporcionar: as dores, os sofrimentos, as amarguras e as aflições, como meio exclusivo de redenção dos que pecaram, porque de remissão das culpas e pecados, que exprimem desobediência à Lei soberana do amor a Deus e ao próximo.
Assim, com o ser, de fato, o Consolador prometido, o Espiritismo também é novo Precursor de Jesus e o Mestre foi a voz humana pela qual se fez ele ouvir, advertindo novamente os homens, como o fez outrora João Batista, igualmente super-homem, visto que, "dos nascidos de mulher nenhum maior do que ele", da "cólera" que há de vir e está vindo, em cumprimento e no dizer das profecias.
Saudemo-lo, então, reverentes e agradecidos, bem do imo dos nossos corações, na data em que se verificou o seu aparecimento na Terra, para cumprir a preclara missão que trazia, de amor e caridade.  Reverentes, sim, ante a grandeza do seu Espírito e do seu mandato; agradecidos, por ter sido o veículo da misericórdia do Pai, facultando-nos meio de nos tornarmos penitentes, sem necessitarmos de que a consciência nos seja despertada pelas provas acerbas e pelas dores cruciantes, a menos que não compreendamos a verdadeira finalidade do seu labor, ou que, embora compreendendo-a, não cuidemos de aproveitá-lo para a reforma do nosso, eu, a fim de que em nós reviva a fé naquele que é Caminho, Verdade e Vida, conforme lhe tocou de novo proclamar no fim dos tempos da "abominação da desolação", quando se prepara a "purificação do santuário" - os corações, pela cristianização das almas.
(Artigo de fundo, da lavra de Guillon Ribeiro, de "Reformador" de 1939, página 326.)
Reformador – nº 1795 – outubro – 1978
Trascrição sem revisão: Celso Macêd





      ALAN  KARDEC
Espiritualidade e filatelia são correntes bem distintas mas, personalidades envolvidas em seus movimentos sempre se fizeram presentes nos selos em todo o mundo. Assim, o tema Religião passa a ser algo notável e complexo. Futuramente, pretendendo esboçar um ensaio a respeito em nosso espaço mas hoje, em razão da carta do nosso leitor e do selo por ele remetido, decidi destacar a figura de Allan Kardec, como segue:
Allan Kardec – pseudônimo de Hippolyte Léon Denizaro du Ribail (1804-1869), o sintetizador do espiritismo, era professor, tendo se formado em medicina sem, todavia, dedicar-se à profissão. Durante longos anos ideou uma unificação das crenças religiosas. Em 1854 começou a freqüentar sessões espíritas e se convenceu de que recebera a missão de fundar uma religião “verdadeiramente grande, bela e digna do Criador”.
À partir de então, consagrou-se exclusivamente ao espiritismo sendo que a maioria dos seus textos em tantas obras, foram obtidos por médiuns, entre os quais Camile Flammarion. Suas principais obras foram o Livro dos Espíritos, o Livro dos Médiuns e o Evangelho Segundo o Espiritismo. Fundou a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.
*O selo de Allan Kardec foi emitido em 1957 para comemorar o 1º Centenário da Codificação do Espiritismo.
Chico Xavier
No Brasil, uma das figuras de maior destaque no campo da espiritualidade é o médium Chico Xavier, que tem prestado grandes serviços às pessoas ao longo de sua vida. Aliás; uma vida dedicada em ajudar e a psicografar inúmeras obras, sendo muitas delas ditadas pelos espíritos Emmanuel e André Luiz. Que ele mereça, ainda em vida, a homenagem em um selo”.
Boletim Semanal Luz do Evangelho - Novembro de 1997 - Nº 50